Película X Digital

Em primeiro lugar, gostaria de colocar as coisas nos seus devidos lugares: com os avanços tecnológicos, se é que podemos chamar assim, se criou possibilidades de realização na captura de imagens dos produtos audiovisuais, que não existiam até então. O grande equívoco é querer comparar os métodos ou formas, ou tecnologias aplicadas nestas capturas por seus realizadores. E pior, querer enfiar por goela abaixo das pessoas que este é melhor que aquele.

Cada uma das tecnologias tem sua adequada aplicação. No final, tudo poderá ser chamado de audiovisual, porém, existe uma diferença enorme entre um produto produzido em vídeo digital para o produzido em película, e ponto. É uma questão técnica de engenharia em todos os sentidos e sabemos disso. São tecnologias completamente distintas.

Isto não diminui nem aumenta a estatura do artista que faz uma dessas opções, mas tem enorme influencia no conteúdo final estético de cada produto. Por mais avançado que seja o sistema eletrônico, ele “ainda” não atingiu nem na captura e nem na projeção digital, um resultado que chamo de “humanização da imagem”, quando captado no processo fotoquímico. Ora, se fazer um filme em película, não garante a qualidade da obra estética ou dramaticamente, é um conjunto de difíceis fatores a serem juntados que faz um filme ser bom ou ruim, em vídeo ou película.

Imaginemos que o mundo há cem anos utilizasse para a captura de imagens uma técnica chamada “vídeo digital” e anos mais tarde aparecesse um “louco” que utilizasse outra técnica de impressão num pedaço de “plástico” (celulóide), com 35 mm de espessura bruta e área útil de aproveitamento com apenas 22 mm, e ainda por cima, garante o “louco”, que projetando-se aquele pedacinho de “plástico” a uma distancia “X” de uma tela e ampliando o tal plástico em mais de 40, 60, 80 mil vezes seu tamanho original, daríamos de cara com o resultado das imagens nas telas nas quais nos acostumamos a ver?! Seria o maior invento da humanidade!!! Mas a história não foi esta, foi exatamente o contrário. Quero dizer com isso, que façam seus filmes como puderem, com a dignidade que seus recursos permitirem, sem comparações das tecnologias escolhidas e sim opções certas. Porque não há comparação.

Hoje em dia estas novas ferramentas nos deu condições de optar de acordo com o roteiro, a estética fotográfica, a arte, a finalização, a logística e agilidade, a estrutura de produção, e fundamentalmente o orçamento de cada filme. Que tecnologia usar neste ou naquele produto? Chamo atenção por exemplo: seria possível o grande fotógrafo Eduardo Serra (nosso meio patrício), fazer o filme Moça com Brinco de Pérola em vídeo e obter aqueles resultados fotográficos? Tenho certeza que não, pelo menos, ainda não.

Cezar Elias é Diretor de Fotografia

Fonte: Plano Geral - Blog do CTAV

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