A sra Laura ainda está com um Sr Problema?



DJ Rocha e Edinho Tabaréu- para a Nova Academia da Berlinda

"É impressionante a precisão dos fatos políticos confirmados nestas eleições que segundo os calendários é a ultima de um ciclo sagrado na história do sistema cósmico estelar. O tempo de agora talvez se caracterize de um lado pela superação definitiva de ideologias, mas por outro lado também pelo advento profusivo de novos ídolos, contradições que em casos extremos, vem gerando conflitos sociais entre quais aqueles que Bruno Latour identifica como iconoclasmos. O que se observa de fato é uma normalidade continua, quase acadêmica, de tentativas quase mágicas, para não dizer sortilégicas, supondo aqui e ali, a possibilidade de uma sociedade mais ou menos polarizada na qual se tem mais ou menos ódio de classe seja no Brasil ou em qualquer outro estado da economia capitalista. A natureza tropical contínua exuberante, a abundancia naturalmente disponível para todos, seguimos recuperando o que fica de esquecido e degradado na beira das estradas que levam aos latifúndios remoídos por estas velhas vacas gordas no leito de morte. Tiririca é neste sentido o caso intrigante para a constituição judiciária brasileira que por não reconhecer o direito do analfabeto está diante de poder julgar o mandato popularmente eleito do delegado de polícia que teve o despeito de encarcerar Daniel Dantas, um dos maiores e mais blindados financistas e mafiosos do País. É exemplar também como toda esta grande farsa soa seus bordões aquí nas profundas Minas destes nossos Campães Gerais. Falo isso sem ódio de classe, pelo contrário, falo com amor e com todo respeito à dor dos fundamentalistas. No entanto, impressiona como não se ouve o clamor pela paz, pela superação da dor, da pobreza, pela paz mundial, pelo mesmo direito de tods ao firmamento, sendo que se ouve apenas gritos oprimidos e falências anunciadas. O mesmo pandemonio acontece também com as verdades da ciência como a quaisquer verdades absolutas, aos olhos de qualquer cego se mostram verdadeiramente impuras, como aqueia donzela para quem se lembra da sra Impureza que tamém renegou a Till, a criança abandonada até pelo capeta mas que encontrou algum carinho no grupo mineiro Galpão de Teatro".



Marina,... você se pintou?

Maurício Abdalla [1][1]

“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo Boff.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.

[1][1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

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