
Rui Nogueira, médico, pesquisador e escritor. Apesar da avalanche de elogios ao Governo Lula-Dilma, a realidade para grande parte do povo está muito difícil. Injustiças estruturais estão se perpetuando.
Você vai gostar, pois retratam muito bem a realidade e nos inspiram em lutas por Direitos Humanos.
Fonte: Texto enviado por Frei Gilvander Moreira
Saúde, por que o caos?
Rui Nogueira
Saúde é um direito de todos. Está na Constituição.
Existem muitos discursos e reportagens, entretanto, não há a evidência de um dedo administrativo, uma doutrina bem estabelecida e executada na direção do atendimento universal.
Há três fatores que tumultuam a implantação de um serviço de saúde como deveria ser. O primeiro, a política partidária cuja ação de proselitismo procura transformar os órgãos da saúde em comitês eleitorais e busca colocar até os atendimentos corriqueiros numa resposta a pedidos políticos.
Outro fator é o descomunal crescimento do que denominamos Complexo-Industrial-Médico-Financeiro, a reunião de todos os fabricantes de aparelhos, insumos para os atendimentos médicos, medicamentos num sistema que atua em bases estritamente comerciais, com metas de resultados financeiros. Neste caminho, buscam grandes consumos de medicamentos (inclusive sem receita e com auto-medicação), maior número possível de exames (trabalhos mostram que 80% dos exames pedidos são desnecessários). Tudo isto amplia os seus elevados lucros.
Nascemos sadios. É ínfimo o percentual dos que chegam ao mundo com alterações importantes. Diante disto, deveria prevalecer a preocupação com a prevenção e a promoção da saúde, porém, a atenção está voltada para os tratamentos curativos com esquemas terapêuticos crônicos e de alto custo.
Que o sistema de saúde funcione universalmente não interessa a alguns setores porque boa parte do proselitismo político e religioso, no nosso País, é feito em cima de saúde com atenções conseguidas e curas milagrosas ou não. A presença de funcionários em estabelecimentos de saúde com a missão específica de agenciar pedidos políticos comprova isto. Uma cirurgia conseguida rende quantos votos?
A preocupação política se evidencia nos projetos pontuais, tipo um posto de saúde para atender dia e noite, ao arrepio de toda a construção de ideias do SUS. Obras ligadas ao Estado ou ao Governo Federal permitem a propaganda “Fui eu que consegui”, no lugar da assistência ampla ao alcance de uma caminhada. É propaganda, não solução!

O caos que se generaliza na área de saúde tem apontado como causa a má-gestão e a falta de recursos. No serviço público a boa gestão é dificultada pela instabilidade dos dirigentes nomeados não pelo mérito mas pelos interesses político-partidários. Há ainda os antagonismos das disputas de cargos (destaque, poder, remunerações) e os bloqueios dos antagonismos políticos. Nisto, a solução é a de transformar saúde em carreira de Estado com concurso público e dedicação exclusiva.
Falta de recursos é outro pilar da argumentação para a causa do caos. Se consultarmos os controles orçamentários da Câmara verificamos que grandes partes dos orçamentos são usadas no pagamento de dívidas e que a nossa administração financeira, centralizada em caixa único, tem como objetivo prioritário a formação do chamado superávit primário destinado ao pagamento das dívidas. Os percentuais para saneamento estão zerados em função da política estabelecida e não divulgada e discutida de trabalhar com financiamentos externos e não com os próprios que estão enfraquecidos pela isenção de impostos para as exportações e pela submissão ao sistema de mercantilismo colonial que prevalece para beneficiar os estrangeiros há séculos!
O capítulo dos financiamentos é totalmente surrealista, sem lógica. Em lugarejo do interior da Paraíba encontramos uma placa anunciando a construção de privadas higiênicas financiadas pelo Banco Mundial. Ora vejam! Tudo na obra, areia, cascalho, tijolo é pago em Real, a moeda brasileira. Para que o dólar? Ele cria uma dívida que é paga com recursos do Fundo de Participação dos Municípios que deveria ficar para as atividades básicas do município. Além disto, no mesmo ano em que o Banco Mundial financiou, em todo o mundo, 30 bilhões, o Brasil pagou 165 bilhões de juros da dívida! Portanto a alegação de falta de recursos não é verdadeira. Por que pegamos dinheiro com o pobretão Banco Mundial, e não reformulamos a nossa política econômica para a direção de beneficiar o povo brasileiro?
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Que País é este?

Fora da pirotecnia dos foguetões e das apresentações deslumbrantes dos artistas temos o quê?
Um país surrealista com fama de rico que é repassada desde a escola.
Boa parte da história brasileira envolve a procura do ouro, do desbravamento atrás de riqueza súbita que se esvai e deixa poucas vantagens locais.
Sai pau-brasil a troco de quê? Há séculos se planta cana-de-açúcar para beneficiar quem? Aquele que planta ou é escravo ou vive próximo da miséria.
Ouro quintado ou contrabandeado, diamantes contratados para a Coroa ou entregues à Coroas européias controladoras. Café exportado por preços controlados no exterior. Desmatamento ampliado para a monocultura de eucalipto que ninguém come mas vai sem impostos, após destruir a nossa agricultura familiar, fazer papel para os estrangeiros.
Mecanizações sucessivas que acabam até com o sub-emprego das atividades agrícolas; meeiros, moradores antigos, os tradicionais são enxotados para as periferias de cidades, sem assistência. A inchação das cidades.
Que País é este?
É o que paga a maior taxa de juros do mundo.
Exporta com isenção de impostos e aceita que os preços das mercadorias sejam estabelecidos, pelo comprador, no exterior.
É o País que assiste indiferente a exportação de minério de ferro a cinco dólares a tonelada (com isenção) e verem os preços controlados no exterior aumentarem para as transnacionais que chegam com as privatizações remeterem mais lucros para suas sedes.
É o que mal consegue perceber que um aumento em quarenta por cento da importação sem taxas ou com valores muito reduzidos mata a nossa indústria própria e cria desemprego intenso.
Deste País produtos de exportação saem com isenção e pagam taxas para entrar em mercado externo (álcool).
Neste País somos ricos em ouro mas as minas estão direta ou indiretamente nas mãos dos ingleses. O País que tem muita bauxita (minério de alumínio) porém as minas foram vendidas pela VALE, que tem registro em Ilhas Cayman para empresa ligada ao governo da Noruega.
Oh! País que aceita cabotagem livre (único no mundo) e tem participação ínfima na navegação pois acabaram com o Lloyd e empresas brasileiras. È um País que tem bom volume de exportações mas gasta 21 bilhões em fretes para os navios com bandeira, tripulação e seguros estrangeiros.
Quantas estradas de ferro são de propriedade e gestão brasileira? Nenhuma!
Os portos estão privatizados. Parece que precisamos abrir os portos para os brasileiros Quem vai fazê-lo?
Com produção hidrelétrica barata pagamos as tarifas de energia mais cara do mundo! E há cobranças fraudulentas e irregulares que não são controladas, nas mãos de transnacionais.
Água, o bem essencial à vida, está se transformando em mercadoria. Só bebe se pagar!
O País de uma educação preocupada com computadores nas escolas, sem professores e valorização devida. Que vergonha ver histórico escolar de aluno aprovado sem professor ou ganhando nota porque foi a uma festa de Halloween!
Que País é este que permite a situação de um paciente internado em maca no corredor de hospital ir ao banheiro e na volta constatar o roubo do seu travesseiro, o sumiço do seu lençol e alguém querendo levar o seu leito. Não é problema de má gestão, mas de vontade política, planejamento e receber os recursos que são desviados para gerar superávit para o pagamento de dívidas.
Que País é este com as mais caras tarifas telefônicas cobradas por empresas controladas por estrangeiros, o campeão no uso de venenos e herbicidas (mesmo assim sem efetiva fiscalização) e admitindo a venda de produtos proibidos no exterior.

Este é o País que concentra o seu transporte em rodovias e esquece ferrovias e navegações.
Como o País pode permitir que organizações bancárias estrangeiras possam ter agências no varejo e captar a nossa poupança?
Que País é este que constrói uma siderúrgica inteira com operários estrangeiros?
Que País é este que um juiz tem que determinar quem vai ser internado e quem receberá medicamentos que precisa.
Que falar do arrendamento de riquíssimas áreas florestas?
Que País é este cujo povo distraído por futebol, bunda e TV fica mergulhado em futilidades e emoções rasteiras para não perceber a sangria e a derrama que sofre e que impedem que este seja o País bom para todos viverem e criar os seus filhos com dignidade.
Leia mais textos de Rui Nogueira aqui: www.amigopatriota.com
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