Descoberta do maior cemitério clandestino do continente

Colômbia, no paroxismo do terror, clama solidariedade.
04/02/2010

Paramilitar Villaba:

“Fizeram-me tirar o braço de uma menina, pedia que não o fizesse, tinha filhos”. HH: “decapitamos (…) uma estratégia para promover o terror”.

Azalea Robles

www.kaosenlared.net

Foi descoberto, na Colômbia, o maior cemitério clandestino da história recente da América. A vala comum contém os restos de, pelo menos, 2.000 pessoas e está situada em La Macarena, município de Meta. Vários populares já haviam alertado em inúmeras ocasiões, em 2009, o que foi em vão, pois a Justiça não procedia com as investigações. Foi graças à perseverança dos familiares dos desaparecidos e a visita de uma delegação britânica (sindicalistas e parlamentares britânicos) que investigava a situação dos direitos humanos na Colômbia, em dezembro de 2009, que se conseguiu descobrir este horrendo crime perpetuado por agentes militares e paramilitares de um Estado que os garante a impunidade. Um Estado que usa o terror e os massacres para viabilizar o saque multinacional, desaparecendo e reprimindo todos aqueles que ousam reivindicar seus direitos.

Trata-se da maior vala comum do continente: desde 2005 o exército, cujas forças de elite estão divididas por todo o território, está enterrando ali centenas e milhares de pessoas como indigentes. Para encontrar um cemitério desta magnitude é necessário nos remetermos à barbárie nazista. Sua amplitude deixa claro que a macabra prática do seqüestro e do desaparecimento forçado exercido pelo exército e seu braço paramilitar é ainda mais horrenda que o que já conhecemos. Sem dúvida, o caráter genocida do Estado colombiano exige uma mobilização de solidariedade urgente e que os criminosos agentes do Estado e das multinacionais paguem por seus crimes de lesa humanidade.

Jairo Ramírez, jurista, secretário do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia, que acompanhou a delegação britânica ao lugar, ao descobrir a grandeza da vala comum, testemunhou: “O que vimos foi assustador (…). Uma infinidade de corpos e, na superfície, centenas de placas de madeira, de cor branca, com a inscrição NN e com datas de 2005 até hoje”.

Ramírez completa: “O comandante do exército nos disse que eram guerrilheiros que tombaram em combate, porém as pessoas da região nos falaram da multidão de líderes sociais, camponeses e lideranças comunitárias que desapareceram sem deixar rastro”.

O horror de La Macarena faz lembrar à Colômbia e ao mundo a quantidade assustadora de cemitérios clandestinos e valas comuns, cujas coordenadas foram obtidas nos anos e meses recentes, depois das audiências de paramilitares que, escondendo-se atrás da “Lei de Justiça e Paz”, confessam seus crimes e dão informações sobre cemitérios clandestinos e outros detalhes da guerra suja do Estado.

O paramilitarismo é uma estratégia estatal, financiado pelo Estado e as multinacionais Nestas audiências, os paramilitares vêm deixando claro (caso ainda haja alguma dúvida) que é uma estratégia da guerra suja do Estado e que recebem financiamento de multinacionais e oligarquias. Porém, ao fornecerem tantos detalhes e denunciarem que sua formação, armamento, implementação e proteção é referendada pelo Estado colombiano, vários deles são extraditados para os Estados Unidos.

Assim, impõem-se o silêncio sobre os responsáveis estatais e multinacionais dos massacres, evitando que as famílias tradicionais das grandes oligarquias e as corporações sejam apontadas como financiadores e criadores desse cruel fenômeno. Apesar de silenciados, as informações apresentadas pelos paramilitares extraditados confirmam a evidência: o paramilitarismo é uma ferramenta do Estado colombiano, criada por ele e que segue recomendação da CIA, com instrutores norte-americanos e do Mossad, tendo seus massacres financiados pelo próprio Estado, os latifundiários e as multinacionais (Repsol, BP.OXY, Chiquita… entre outras) (1). A razão da criação do paramilitarismo é a neutralização da reivindicação social, em todas as suas expressões. Por isso, a Colômbia é o lugar mais perigoso do mundo para exercer a atividade sindical; por isso, os estudantes são assassinados, inclusive nas universidades; por isso, são assassinados os líderes camponeses; por isso, são desaparecidas dezenas de milhares de pessoas pelas mãos dos paramilitares. O intuito é calar as reivindicações.

A lei da “Justiça e Paz” foi editada pelo Estado, desenhada pelo presidente Uribe, para que seus paramilitares conquistassem a impunidade ou condenações pequenas em comparação com a crueldade e amplitude de seus crimes. Dessa maneira, centenas de chefes paramilitares, autores de milhares de assassinatos, conseguem livrar-se, quase sempre, da prisão, em troca de algumas informações sobre cemitérios clandestinos e valas comuns, afirmando estarem “arrependidos”. Porém, as grandes empresas, sejam elas nacionais ou multinacionais, acumulam ainda mais capital graças aos massacres, seguindo intocadas.

A impunidade das multinacionais é total: não obstante, o Tribunal Permanente dos Povos declarou culpadas várias multinacionais (1) e suas filiais. São culpadas de fomentar o paramilistarismo e práticas genocidas na Colômbia: “Por sua participação como autoras, cúmplices ou instigadoras, no encargo de práticas genocidas, em suas diferentes modalidades: matança de membros de grupos; lesão grave à integridade física ou mental dos membros do grupo; e submissão intencional do grupo a condições de existência que venha a acarretar sua destruição física, total ou parcial. Estas práticas se fizeram concretas no processo de extinção de 28 comunidades indígenas, no processo de aniquilação do movimento sindical colombiano e no extermínio do grupo político Unión Patriótica (…). Por sua participação (…) na efetivação de crimes de lesa humanidade, como: assassinato; extermínio; deportação ou traslado forçado de populares; encarceramento; tortura; violação; perseguição de um grupo ou coletividade com identidade própria fundada em motivos políticos e étnicos, em conexão com outros crimes mencionados, e desaparecimento forçado de pessoas”.

Impunidade para grandes capitalistas, multinacionais e oligarquia: extraditar sepulta a verdade O caso dos paramilitares Mancuso (2) e Hebert Veloza (3), por exemplo. Eles serão julgados nos Estados Unidos por narcotráfico e não poderão ser julgados por crimes de lesa humanidade na Colômbia. Com a saída destes assassinos da Colômbia, muitas vítimas ficarão sem conhecer o paradeiro de seus desaparecidos, pois numa primeira audiência, estes chefes paramilitares, geralmente, dão uma ou outra informação sobre as sepulturas. Em casos como o de Veloza, que admitiu 3000 assassinatos pelo menos, ainda existem muitos detalhes a serem revelados sobre o paradeiro das vítimas. E o mais importante: a falta do esclarecimento do todo, somada ao fato de que a extradição impede a apreensão das informações, gera a subtração ainda maior da verdade. Ou seja, o Estado busca evitar a todo custo que se tenha acesso aos nomes dos autores intelectuais dos crimes.

Hebert Veloza declarou, acerca das atividades por ele desenvolvidas entre 1994 e 20036: “Calculo que meus grupos assassinaram aproximadamente 3 mil pessoas ou mais. Muitos deles eram atirados ao (rio) Cauca”, respondendo à pergunta de quantas pessoas havia matado.

A dissuasão pelo terror: dissuadir a reivindicação e esvaziar extensos territórios Veloza, também conhecido como HH, um dos mais cruéis chefes do grupo paramilitar Autodefensas Unidas de Colombia (AUC); disse ter utilizado a “decapitação” para aterrorizar as comunidades. “Quando chegamos a Urabá, decapitamos muita gente. Era uma estratégia para promover o terror”. É uma estratégia de “dissuadir pelo terror’: está teorizada nos manuais de contrainsurgência do Estado (cortesia dos EUA) e consiste em difundir um intenso pânico através das torturas e desmembramentos públicos para alcançar a paralisia dos sobreviventes… Se busca calar as reivindicações sociais, econômicas, ecológicas; se busca “dissuadir pelo terror” a reivindicação e dispersar assim populações inteiras.

Sempre que o governo fala de “diálogo” com os paramilitares, tendo em vista a sua “desmobilização”, as vítimas qualificam estes “diálogos” como “monólogos”, pois o paramilitarismo é uma estratégia do próprio Estado.

Massacrar com ostentação e encobrir os beneficiários de tanta morte Para os “autores intelectuais” destes crimes, a extradição dos paramilitares é a salvação para que não se conheça a verdade plena. Mandam os paramilitares aos Estados Unidos com o intuito de que estes sejam julgados por delitos menores que os genocídios que cometeram. Assim, se esconde a verdade, se calam os nomes, os sobrenomes da oligarquia, dos empresários, dos gerentes e agentes de multinacionais, dos congressistas, ministros e até… os nomes de algum presidente…

“Em Urabá, quando começamos, deixávamos os corpos no mesmo lugar onde as pessoas eram mortas”, relatou Veloza. “Depois de um tempo, o poder público começou a pressionar e (disseram) que nos deixariam continuar trabalhando, porém, teríamos que desaparecer com as pessoas. Assim, começaram a surgir as valas comuns”, afirmou.

E assim se expressou Veloza, referindo-se ao exército oficial da Colômbia: “Nós éramos ilegais e são mais culpados eles do que nós. Porque eles representam o Estado e são obrigados a proteger essas comunidades e utilizavam os nossos serviços para combater a guerrilha. Nós cometemos muitos homicídios e temos que responder, porém, eles também devem responder…” “Assassinávamos pessoas todos os dias, em todos os municípios de Urabá”, continuou. Foi nos estados de Córdoba e Urabá que se formaram as AUC, em 1998, sob o apoio do Estado colombiano. Acabaram totalmente com a população em numerosas comunidades suspeitas de serem simpatizantes ou familiares dos guerrilheiros. Também se orientaram os paramilitares para acabar com os sindicalistas e ecologistas, com o objetivo de facilitar a implantação de um modelo de “desenvolvimento” econômico que necessitava de grandes e rápidos deslocamentos populacionais.

John Jairo Rentería, também conhecido como Betún, foi um dos últimos paramilitares a dar declarações. Revelou, na presença do magistrado e dos familiares das vítimas, que ele e seus paramilitares enterraram “ao menos 800 pessoas” na propriedade rural de Villa Sandra, em Puerto Asís, Putumayo.

Declarou a metodologia aplicada: “Tínhamos que desmembrar as pessoas. Todos nas Autodefensas tínhamos que aprender isso e, muitas vezes, fazer isso com as pessoas vivas”.

O movimento de vítimas de crimes de Estado na Colômbia estima em mais de 50.000 os desaparecimentos causados pelos paramilitares do Estado ou por agentes policiais e militares. O próprio Ministério Público da Colômbia reconhece 25.000 “desaparecidos”. Os familiares dos desaparecidos rodam o país a cada descoberta de cemitério clandestino, numa busca difícil e dolorosa.

Lançar as vítimas aos jacarés: o horror do total desaparecimento Existem cemitérios clandestinos enormes na Colômbia. Sabe-se, também, por outras declarações de paramilitares e de vítimas sobreviventes, que os paramilitares teriam propriedades no campo com criadouros de crocodilos para desaparecerem com suas vítimas (às vezes, deixavam sobreviventes para que contassem o que viram nos locais de tortura). Em San Onofre, Sucre, num sítio conhecido como “El Palmar”, o chefe paramilitar “Rodrigo Cadena” lançava os cadáveres das vítimas, e até com vida, aos jacarés que viviam na represa (4).

Assim, os torturados eram lançados nos criadouros de jacarés. Muitas pessoas desapareceram totalmente, comidas pelos jacarés, ou lançadas nos rios, no mar ou em fornos crematórios.

O Governo não demonstra vontade política de investigar a fundo e não permitirá que apareçam algumas valas comuns. Além disso, retardam as identificações, provas químicas e provas de DNA.

Quantos cemitérios clandestinos se podem encontrar? A localização das valas comuns é dada por paramilitares que desejam diminuir em até um quarto a sua condenação. Porém, muitos seres humanos foram completamente eliminados…

Salvatore Mancuso, por exemplo, confessou que, para evitar que encontrassem o corpo do líder indígena Kimi Pernía, o retiraram da vala e o jogaram no rio Sinú.

Outros paramilitares contam que o próprio Mancuso, para esconder seus crimes, mandou revolver a terra de um sítio em Ralito, em que seu grupo havia enterrado cadáveres. Agora, as Águilas Negras, herdeiras dos paramilitares, estão desenterrando e lançando nos rios o conteúdo de várias valas, dizem os investigadores.

Os cursos para implantar o terror Os testemunhos de paramilitares e os resultados das equipes forenses permitem concluir que as Autodefensas Unidas de Colombia não só criaram um método de esquartejar seres humanos, como chegaram ao extremo de ministrar “cursos”, utilizando pessoas vivas que eram levadas até seus campos de treinamento.

Francisco Villalba, o paramilitar que dirigiu no território a barbárie de Aro (Antioquia), em que se torturaram e massacraram 15 pessoas durante 5 dias, revela detalhes desses “cursos”: “Levávamos as pessoas em caminhões, vivas, amarradas (…). Se repartiam entre grupos de até cinco (…) as instruções eram retirar o braço, a cabeça… desarticulá-las vivas”.

Os “cursos de esquartejamento” serviam para adestrar os paramilitares em sua função mais específica: infundir o terror na população para, assim, conseguir “dissuadir pelo terror” e dispersar os sobreviventes que presenciaram os massacres. Assim, o grande capital conseguiu retirar mais de 4 milhões de pessoas de suas terras.

O paramilitar Villalba contou à Justiça desde a sua iniciação até seus massacres: “Em meados de 1994, mandaram-me a um curso no sítio La 35, em El Tomate, Antioquia, onde ficava o campo de treinamento”. Disse que as instruções eram recebidas diretamente dos altos comandos, como ‘Doble Cero’ (Carlos García).

Villalba conta que para a aprendizagem do esquartejamento usavam campesinos, pessoas que capturavam em povoados vizinhos: “Faziam com que essas pessoas entrassem nos veículos, amarravam-lhes as mãos e as levavam para um quarto. Ali, permaneciam presas por vários dias, à espera do início do treinamento”.

Dividiam os grupos de seqüestrados entre os grupos de paramilitares “e, aí, esquartejavam”, disse Villalba no interrogatório. “O instrutor dizia a um: ‘Você venha para cá e fulano para lá. Mantenha a segurança do esquartejamento’.

Sempre que se tomava um povoado ou que se ia esquartejar alguém, era necessário oferecer segurança àqueles que estavam realizando o trabalho”… Dos quartos onde estavam presos, mulheres e homens eram retirados apenas com roupas íntimas. Com as mãos atadas, eram levados ao sítio onde o instrutor esperava para iniciar o “curso”: “As instruções eram para ensinar a arrancar o braço, a cabeça, esquartejá-los vivos. Eles saíam chorando e pediam que não os fizessem nada, que tinham filhos”. Villalba descreve: “As pessoas eram abertas do peito até a barriga para que se retirasse as tripas, o despojo. Depois, retirava-se as pernas, braços e cabeça. Isso era feito com machado ou facão. O resto, o despojo, com as mãos. Nós, que estávamos em treinamento, retirávamos os intestinos”.

O treinamento existia, segundo ele, para “provar a coragem e aprender como fazer desaparecer uma pessoa”. Está claro que os esquartejamentos têm a função clara de aterrorizar ao serem praticados na frente de populações inteiras.

“Mandaram retirar o braço de uma moça. Ela pedia que não o fizesse, pois tinha filhos”. Os corpos eram sepultados no sítio “La 35”, onde, calcula-se, enterraram em valas mais de 400 pessoas. (5) Diante do desprezo do Estado, as mães da Candelaria escavam elas mesmas A magistratura é extremamente lenta na descoberta das valas comuns. Existem mais de 4200 informações sobre esses cemitérios clandestinos e não foram feitas mais de trezentas buscas. Enquanto isso, os testes com os restos humanos, a prova de DNA têm sido feitos com morosidade, comprovando o escárnio que o Estado professa aos parentes e às vítimas. Desprezo de um Estado que alega “falta de recursos”, enquanto endivida o país para pagar os gastos militares e paramilitares. Por isso, desde começos de 2007, uma delegação das “Madres de la Candelaria” reuniu-se na cadeia com o chefe paramilitar Diego Fernando Murillo, o “Don Berna”, e com outros chefes paramilitares (hoje extraditados nos Estados Unidos) e estes as aproximaram da localização dos cemitérios da Comuna 13, de Medellín. Então, vários familiares decidiram armarem-se de picaretas e pás para desenterrar seus entes queridos. “Não pretendemos recomeçar o trabalho da Justiça (…). Nós, de acordo com que nos disseram estes senhores (assassinos), vamos por nossa conta e com nossas pás (pelos bairros da Comuna 13) para ver o que encontramos. Muitas vezes eles não querem ou não possui nenhuma serventia confessar onde está ‘x’ ou ‘y’, e não convém que digam isso na frente dos juízes. Então, nós dizemos a eles: ‘Fiquem tranqüilos, digam-nos onde estão nossos filhos e vamos. E nós, caladinhas, os buscamos”.

A comissão britânica que visitou a Colômbia escutou múltiplos testemunhos acerca das violações de direitos humanos e sindicais, acerca de execuções extrajudiciais, deslocamentos e fugas forçadas, desaparecimentos, criminalização da oposição política, montagens judiciais, roubo de terra dos camponeses para benefício das corporações multinacionais.

A comissão declarou em suas conclusões finais que: “Depois de ter escutado tais testemunhos, cremos que o exército colombiano é responsável pela maioria das violações de direitos humanos contra a sociedade civil”, e também que: “A atividade paramilitar persiste, especialmente nas regiões rurais e existem evidências de que se permanecem os vínculos entre os paramilitares e o exército”.

Terrorismo de Estado na Colômbia: *Ao menos 50.000 pessoas desaparecidas (seqüestradas e torturadas) pelo terrorismo de Estado, baseada na lógica de “dissuadir a reivindicação pelo terror” (o Estado objetiva que o terror perdure ao desaparecer com o corpo, pois prolonga a angústia dos sobreviventes); *A eliminação física de todo um partido político, a Unión Patriótica (UP): mais de 5.000 pessoas da UP assassinadas pelo Estado; *Mais de 4 milhões de pessoas retiradas de suas terras mediante os massacres dos militares e paramilitares dentro da estratégia estatal da “terra arrasada”, para esvaziar o campo populacional e oferecer, assim, às multinacionais os terrenos de alto interesse econômico, desprovidos de reivindicações e habitantes; *6 milhões de hectares de terra roubados das vítimas e dos habitantes expulsos, sendo ofertadas às multinacionais, aos grandes latifúndios e aos novos grupos paramilitares. Agora, o escândalo da “terra de entrada segura”, vem consolidando este roubo das vítimas (6); *Mais de 4.200 valas comuns (denunciadas) com milhares de cadáveres de colombianos massacrados pelo paramilitarismo do Estado colombiano. Os paramilitares vêm dando algumas coordenadas desses cemitérios clandestinos, para possibilitar a aceitação da “Lei de Justiça e Paz”, editada sob a direção de seu padrinho Uribe, com o objetivo de conseguir a impunidade caso mostrem “arrependimento”. Lei que legaliza as terras usurpadas. Já em abril de 2007, quando se cumpria o primeiro ano de busca de valas comuns, a Justiça recebeu 3710 denúncias de sítios onde achá-las, porém não foi possível explorar a maioria, segundo o Estado, por “falta de recursos”…; *Milhares de cadáveres vêm sendo descobertos nos cemitérios clandestinos, porém o Estado já anunciou aos familiares das vítimas que não poderá arcar com as análises de DNA de todos os corpos por “falta de recursos”… Porém, para pagar aos assassinos e torturadores se tem o dinheiro.

*2.649 sindicalistas assassinados; *Milhares de execuções extrajudiciais, entre elas o escândalo dos “falsos positivos”. Os militares raptam rapazes e moças, os disfarçam de guerrilheiros e os assassinam, apresentando os cadáveres aos profissionais da comunicação, que se encarregam de terminar as montagens midiáticas. Na Colômbia, os meios de comunicação de massa não investigam e dão por certo o que lhes dizem suas fontes militares. É isto que fazem os militares para “mostrar resultados” em sua guerra anti-insurgente e também assassinar os civis que incomodam. A midiatização dos mortos que são supostos guerrilheiros na Colômbia é absolutamente macabra: mostram corpos alinhados, semi-nus, sendo movimentados pelas botas dos militares… Desta forma, se molda a opinião pública de desumanização dos guerrilheiros; *Mais de 7.500 presos políticos, muitos deles vítimas de montagens judiciais contra militantes sociais; *Centenas de auto-atentados (7), outro tipo de “falsos positivos” por parte das forças policiais e militares. Estas forças vêm colocando bombas em plena Bogotá para criar a base de uma montagem midiática de desprestígio das FARC. Um dos mais grosseiros auto-atentados ocorreu ao norte de Bogotá, próximo da Escola Militar José María Córdoba. Perto de um caminhão militar, estourou um caminhãobomba, deixando um reciclador morto e dez soldados feridos. Militares estão sendo “investigados” pelos auto-atentados… Investigados como “pessoas individuais”, não como parte de uma estratégia estatal…

A violência promovida pelo grande capital, em sua ânsia por não perder a Colômbia, o valioso “armazém de recursos”, vem sendo implantada e mantida nesse engendro que é hoje o Estado colombiano.

Esse Estado criminal não existiria sem a “ajuda” descomunal dos EUA e da União Européia, sem o endividamento do povo colombiano para financiar os gastos militares, sem sua estratégia paramilitar de terrorismo de Estado, sem seus apoios militares e midiáticos. Sem isso, o Estado colombiano não poderia perpetuar tanta barbárie e o povo colombiano teria conquistado sua verdadeira independência, sua emancipação de tanta cobiça, morte e dor.

____________________________

NOTAS:

(1) http://www.colectiv odeabogados. org/DICTAMEN-FINAL-AUDIENCIATRIBUNAL As seguintes empresas e suas filiais foram declaradas culpadas de fomentar o paramilitarismo e práticas genocidas na Colômbia: Coca Cola, Nestlé, Chiquita Brands, Drummond, Cemex, Holcim, Muriel Mining Corporation, Glencore-Xtrata, Anglo American, Bhp Billington, Anglo Gold Ashanti, Kedhada, Smurfit Kapa – Cartón de Colombia, Pizano S.A. y su filial Maderas del Darién, Urapalma S.A., Monsanto, Dyncorp, Multifruit S.A. filial de la transnaciona Del Monte, Occidental Petroleum Corporation, British Petroleum, Repsol YPF, Unión Fenosa, Endesa, Aguas de Barcelona, Telefónica, Canal Isabel II, Canal de Suez, Ecopetrol, Petrominerales, Gran Tierra Energy, Brisa S.A., Empresas Públicas de Medellín, B2 Gold – cobre y oro de Colombia S.A.

(2) http://www.elespect ador.com/ noticias/ judicial/ articulo91305- mancusodice- fuerza-publica- le-ayudo- masacre-del- aro Audiência de Mancuso e Rito alejo del Río, coordenadores de paramilitares: http://www.youtube. com/watch? v=3WlH5RpofaU

(3) ‘H.H’ revela vínculos da AUC com Byron Carvajal e Rito Alejo del Río: http://www.elespect ador.com/ noticias/ judicial/ articulo116951- alias-hhrevela- vinculos- de-auc-byron- carvajal- y-rito-alejo- del-rio HH confessa mais de 3000 assassinatos. Será extraditado para calar os nomes dos autores intelectuais: http://www.kaosenla red.net/noticia/ paramilitar- confiesamas- 3000- asesinatos- sera-extraditado -para-callar- (

4) http://www.colectiv odeabogados. org/UN-CAMPO- DE-CONCENTRACION -Y http://www.cambio. com.co/paiscambi o/831/ARTICULO- WEB-NOTA_ INTERIOR_ CAMBIO-5346135. html

(5) http://www.eltiempo .com/archivo/ documento/ CMS-3525024

(6) Sobre “entrada segura no campo”: http://www.kaosenla red.net/noticia/ democracia- colombia- bases-militares- usa-neocoloniali smo-expolio

(7) Auto-atentados: http://www.kaosenla red.net/noticia/ video-piedad- cordobadenuncia -analiza- colombia- ocultada- medios-desinfo http://www.kaosenla red.net/noticia/ video-autoatenta dos-macabra- estrategiaterrorismo- estado-para- montajes Tradução: Maria Fernanda Magalhães Scelza

Nenhum comentário: