Mapa das lutas por justiça social e ambiental em MG

No Auditório Sônia Viegas, lotado de estudantes, professores e militantes da Justiça social e ambiental, na FAFICH/UFMG, em Belo Horizonte, MG, Brasil, dia 06 de junho de 2011, durante cinco horas, foi lançado o Portal Mapa dos Conflitos Ambientais de Minas Gerais, uma pesquisa feita durante mais de três anos, finalmente disponibilizada na internet, acessível pelo endereço conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br.

Sob a coordenação da Dra. Andréa Zhouri, professora associada do Departamento de Sociologia e Antropologia da FAFICH/UFMG e Coordenadora do GESTA/UFMG – Grupo de Estudos e Temáticas Ambientais – um seleto grupo de professores e estudantes trabalhou durante mais de três anos fazendo um levantamento criterioso dos conflitos sócio-ambientais no Estado de Minas Gerais. Sob a coordenação do Prof. Eder Carneiro, o Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental - NINJA/UFSJ[3] - contribuiu muito. Sob a coordenação do Prof. Rômulo Soares Barbosa, outro Grupo da UNIMONTES também ajudou significativamente.

Vários professores ajudaram gratuitamente. Dezenas de estudantes, com uma simples bolsa de estudos, debruçaram-se sobre a empreitada e, como voluntários, foram imprescindíveis na realização de muitas oficinas por muitas regiões do grande estado de Minas.
Além de muitos professores na Assembleia, na mesa participaram do Lançamento os professores Klemens Laschefski (do GESTA/UFMG), a Dra. Zani Cajueiro Tobias de Souza, procuradora do Ministério Público Federal, e o Dr. Paulo César Vicente de Lima, coordenador Geral das Promotorias de Justiça por Bacia Hidrográfica de Minas Gerais (Ministério Público Estadual).

A profa. Andréa Zhouri fez a Abertura e a apresentação do site conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br (sem o www). Com descrição do conflito, fotografias, vídeos e textos analíticos, 541 conflitos sócio-ambientais foram estudados, no período de 2000 a 2010 e já estão disponibilizados no Portal, acima. Que beleza! Temos, agora, acessível a quem quiser, em qualquer parte do mundo, online, uma descrição séria, com rigor científico, fruto de pesquisa com metodologia apropriada, do MAPA das lutas ambientais nas Minas e nos gerais.

Houve duas Mesas Redondas. Uma sobre Contaminações, Unidades de Conservação e Povos Tradicionais. Nesta ouvimos relatos comoventes do conflito ambiental que a Empresa Holcim-ODESC, grande produtora de cimento, está causando em Barroso, perto de São João del-Rei. Maurício e Ivone, do Quilombo de Mangueiras, relataram a agressão que os quilombolas estão sofrendo na Mata dos Werneck, em Belo Horizonte. Coletoras de flores sempre viva, de Diamantina, no Alto Jequitinhonha, relataram, com dor, as agressões que estão sofrendo.

Dalva, do Bairro Camargos, de Belo Horizonte, seguindo um power point muito bem organizado, partilhou com todos a saga que foi expulsar do bairro a empresa Serquip, incineradora de lixo hospitalar e industrial tóxico, que causou câncer e enfisema pulmonar em muitas de pessoas com as cancerígenas dioxinas jogadas no ar cotidianamente ao longo de vários anos.

Na 2ª Mesa Redonda – sobre Mineração, Monocultura e Barragem – ouvimos depoimentos dos atingidos pela Mineração em Congonhas, MG, cidade dos profetas do grande escultor Aleijadinho. Por ironia da história, o município onde estão as principais obras de Aleijadinho é que está sendo aleijado pelas mineradoras com um rastro de destruição sem precedentes.

Eugênia relatou o desastre ambiental que as PCHs[4] causam para o meio ambiente e para o povo. Falou especialmente sobre as consequências da PCH em Ferros. Os rios estão sendo fatiados e de tantos em tantos quilômetros se faz uma represa. Assim não há biodiversidade que agüenta!

Foi emocionante ouvir testemunhos de geraizeiros encurralados pela monocultura do eucalipto, em Bocaiúva, no Norte de Minas.

Patrícia e companheiras, com vozes embargadas, relataram as consequências dramáticas da Mineração em Conceição do Mato Dentro. Outras 32 minas estão sendo planejadas para crucificarem o santuário natural no município e região.

Com o lançamento do Portal Mapa dos Conflitos Ambientais de Minas Gerais, o dia 6 de junho de 2011, tornou-se marco histórico para a biodiversidade, para os pobres e para todos os militantes e movimentos que lutam por justiça social e ambiental. Esse Mapa será atualizado constantemente para ser, sem dúvida, um excelente instrumento para fortalecer as lutas por justiça.

Mineradoras, eucaliptadoras, grandes empresas com seus acionistas e diretores estão construindo uma grande sexta-feira da paixão no Estado de Minas Gerais, mas o Mapa dos Conflitos Ambientais de Minas é uma ferramenta que ajudará muito na construção de um domingo de ressurreição para o povo mineiro e toda a biodiversidade das minas e dos gerais.

De coração, em nome de toda a biodiversidade, dos atingidos pela idolatria do mercado e dos movimentos populares comprometidos com a luta pela justiça sócio-ambiental, digo: Parabéns a todos/as que, com abnegada dedicação, suaram a camisa para gestar esse trabalho tão relevante. A luz e a força divina brilham em vocês que consolam os atingidos e incomodam os que agridem impiedosamente a biodiversidade, violando o que é mais sagrado: toda a criação e nela o ser humano. Primeiro sacrifica-se a biodiversidade, depois os pobres, toda a sociedade e as próximas gerações.

O rio de lágrimas que as mineradoras e as empresas eucaliptadoras – os adeptos do deus capital – estão causando se transformará em um rio de águas que regará a construção de uma sociedade justa e sustentável ecologicamente, antes que seja tarde demais.

Na aba MAPA é possível selecionar os municípios por categoria (Atividade/Processo Gerador do Conflito e Tipo de Poluição/Contaminação) e/ou busca por palavra chave. Após a seleção de um caso específico, é possível visualizar a sua Ficha Técnica, com o nome do caso, atores envolvidos, município, descrição do caso, vídeos e publicações relacionadas ao caso, etc.

Como presente de páscoa e de Natal, eis para você e para todos os seus o site conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br.

Belo Horizonte, 11 de junho 2011,

Dois dias após a passagem de uma grande tempestade – chuva e fortíssimo vendaval – que deixou centenas de casas destelhadas, árvores derrubadas e um milhão de pessoas sem energia, muitos bairros por quase 24 horas, ou seja, mais uma oportunidade para se ver que as agressões ambientais estão mudando irremediavelmente o clima trazendo mais e mais catástrofes.

Por Gilvander Moreira

Fonte:
Reecebido por email enviado por Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial em 12/06/2011

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